FamíliaS HOJE – diversidade e pluralidade vincular
- Silvia Losacco
- 18 de jul. de 2018
- 3 min de leitura
Atualizado: 5 de ago. de 2019
"Família é coisa mais maluca que eu conheço
Família tem cheiro, tem cor, tem endereço
Família pode ser a minha, pode ser a sua
Família se constrói em casa, e também na rua!"
Fábio Júnior

Apesar de vermos hoje a configuração familiar modificar-se profundamente, a representação social de família é ainda um desafio a ser enfrentado.
Infelizmente, ainda o modelo estrutural de família burguesa tem sido norma, e não como um modelo construído historicamente, aceitando-se e perpetuando-se os valores, as regras, as crenças e os padrões emocionais impressos nesta representação.
As interpretações sobre as novas configurações e sobre as inter-relações entre aqueles que a compõem ainda são feitas no contexto estrutural da família monoparental. Quando se apresenta diferente desta referência, vemos, ainda, ser denominada como “desestruturada” ou “incompleta” - fato considerado a gênese de todo e qualquer problema de ordem emocional e/ou comportamental.
Aos que compõem uma configuração “diferente”, por desviarem das normas instituídas, atribuem-se discursos de caráter estigmatizantes que expressam incompetência ou menos valia.
Vale salientar que a família, como organismo natural, não acaba e, enquanto organismo jurídico requer uma nova representação. Legalmente temos avançado!
Seja qual for a sua configuração, as estruturas familiares reproduzem as dinâmicas sócio-históricas existentes.
Movimentos da divisão social do trabalho, modificações nas relações entre trabalhador e empregador e o desemprego estão presentes e influenciam o sentido e a direção das famílias. Recebendo o impacto das transformações advindas do contexto socioeconômico em que se insere, a família, como elemento social, é motivo de constantes alterações,
(...) algumas mudanças são facilmente reconhecidas. A mudança central do papel da mulher, do controle da natalidade, os novos laços conjugais e as
novas relações familiares, (...) as questões geracionais (jovens e velhos nas famílias), a nova paternidade (...) mudanças [que] implicam em ganhos e custos emocionais e sociais (Vitale, 2003).
Essas alterações incidem sobre a qualidade da função e do desempenho dos papéis intra e extranúcleo familiar. A complexidade dessa estruturação, criando diferentes organizações e modos de relacionamentos familiares, nos obriga a desenvolver uma capacidade para aceitar a família tal como ela se constitui em face dos desafios que enfrentou, em lugar de procurar nela o modelo que temos como representação.
Cabe lembrar que crianças e/ou adolescentes institucionalizados também têm família. Não são filhos de chocadeira! São frutos de uma relação homem/mulher. Sua gênese é produto de uma determinada configuração familiar. Portanto, possuem laços a serem pesquisados e desvelados e suas relações afetivas se estabelecerão ao longo de seu processo de institucionalização. A função de mãe/pai, avós, tios, serão vivenciados a partir das diversas relações estabelecidas. Sabemos que este é um tema muito pouco explorado e requer maior atenção.
É relevante assinalar que hoje o tempo destinado à convivência familiar é mais escasso, seja pela maior jornada de trabalho em função das necessidades econômicas, seja por solicitação para atividades externas exercidas individualmente ou com grupos extrafamiliares. Esse processo, freqüentemente, favorece o enfraquecimento da coesão familiar.
Essa concepção nova de família constrói-se atualmente baseada no afeto, portanto, no vínculo, do que nas relações de consangüinidade, parentesco ou casamento. É edificada por uma constelação de pessoas interdependentes girando em torno de um “eixo comum” determinado num “projeto”, em planos comuns para um futuro próximo e/ou tardio. Projetos que têm impressos atitudes, afetos e interpretações que levam às condutas que vão formando um enredo cuja trama compõe o universo do mundo familiar.
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